Hoje assinala-se o Dia Mundial do Brincar. E embora a data possa parecer apenas simbólica, ela carrega um apelo silencioso, mas urgente: lembrarmo-nos do que é verdadeiramente importante.

Brincar é a primeira linguagem da infância. É ali que tudo começa — antes da escola, antes das palavras, antes das pressas do mundo.

É no brincar que a criança descobre o corpo, testa ideias, inventa regras, explora medos, expressa alegrias.

É ali, naquele espaço que parece tão simples, que ela aprende a viver.

E o mais extraordinário é isto: brincar não precisa de mais nada.

Não precisa de ecrãs, de brinquedos caros, nem de planos pré-definidos.

Basta um canto, uma colher, uma folha seca.

Basta liberdade.

Basta tempo.

Mas o tempo — esse bem tão valioso e cada vez mais escasso — é precisamente o que falta.

Vivemos entre relógios, compromissos e urgências que se impõem sobre os dias. E o brincar, sendo aparentemente “não produtivo”, vai sendo empurrado para os intervalos, para o fim do dia, para “depois”.

E no entanto, nunca foi tão necessário.

Num mundo sobrecarregado de estímulos, de regras, de exigências… brincar é pausa, é criação, é saúde.

Brincar é, talvez, a forma mais pura de presença.

 

Hoje é Dia Mundial do Brincar.

E talvez não seja apenas sobre as crianças.

Talvez seja também sobre nós — sobre o que esquecemos, sobre o que deixámos de fazer, sobre a urgência de desacelerar.

Hoje, talvez possas:

Ajoelhar-te ao lado de alguém pequeno.
Deixar o telemóvel fora do alcance.
Rir por uma razão leve.
Fingir que o sofá é um barco.
Voltar, nem que por instantes, a esse lugar onde nada era mais importante do que brincar.
Porque há coisas que não se ensinam.

Acontecem. Crescem no silêncio, na liberdade, na curiosidade sem guião.

E é aí — nesse tempo leve, nesse chão inventado — que muito do que somos começa a ganhar

forma.

Neste dia, não precisas de fazer planos.

Basta dares espaço.

Basta lembrares-te.

Hoje é Dia Mundial do Brincar.

E talvez, só talvez, seja o melhor dia para começares de novo.

Carla Vieira